terça-feira, 15 de março de 2011

#Mascara8Anos

Sábado - 12/03/2011

E lá se vão oito anos...

Tô aqui no meio do mato com internet à lenha: às vezes pega fogo, às vezes nem dá sinal.

Mas vendo a galera no Twitter comentando sobre o lançamento de Máscara oito anos atrás, me lembrei de muitas sensações também antigas.

Eu tinha ido pro Rio de Janeiro sozinha, o disco já estava gravado mas a banda ainda não estava totalmente definida. Fiquei um par de meses imersa numa solidão absurda dentro de um apartamento na Barra da Tijuca; eu e a apreensão, a expectativa, a icógnita. Não tinha muitos amigos por lá e todos tinham suas próprias vidas; perdi a conta de quantas vezes perambulei por aquela orla pensando, pensando, pensando.

O que seria, aquilo? O que aconteceria quando o primeiro single do disco fosse lançado? Trabalharíamos finalmente, seríamos a banda de rock que sonhei desde menina com muitos shows pra fazer, em cidades diversas? Eu conseguiria, como nos meus devaneios loucos deitada sozinha na minha cama em Salvador, viver de rock nesse país? Ou morreria na praia como tantas outras bandas-artistas-promessas que já trilharam esse caminho?

Eu não sabia. Eu não tinha a menor ideia. Mas eu precisava tentar, buscar, arriscar, dar a cara pra bater. Era o agora ou nunca. Não criava expectativas megalomaníacas; procurava dar um passo de cada vez. Passos curtos se necessário, porém firmes.
Eu não sabia detalhadamente o que eu queria ser ou até onde poderia ir; mas eu sabia exatamente o que eu não queria. Essa certeza dos “nãos” junto com minha inexorável cara de pau e os arroubos naturais de quem não tem nada a perder me ajudaram bastante.

Havia, na gravadora, uma certa apreensão (pertinente) com relação à Mascara ser o single de estréia do disco. Muita guitarra, pesada, quase cinco minutos de música com parte em inglês e o escambau. Estranhão. “Anti- comercial”. Cogitaram-se outras opções de single. Mas rolava um feeling em mim de que, naquele cenário de nhénhénhé em que se encontrava o rock brasileiro, tinha que acontecer alguma coisa muito oposta, muito antagônica, muito contrastante para surtir algum efeito. Tinha que apostar alto nesse jogo, jogar a carta mais arriscada na mesa. Ganhar tudo, ou perder.

Defendi com uma convicção meio kamikaze, Lobatto, Rafa e enfim a gravadora apoiando essa ideia; e Máscara foi lançada. E foi estranho mesmo. A princípio as rádios não queriam tocar, as únicas rádios de rock que ainda haviam à época compraram a briga, e a coisa foi rolando muito aos poucos. Gradativamente, felizmente e surpreendentemente pra mim, as pessoas ligavam pra pedir a música; e ela ia galgando de estação em estação. O clipe ajudou muito; a MTV exibiu algumas vezes e a notícia de que as pessoas queriam vê-lo cada vez mais me enchia de ânimo. Me lembro de chegar no set para gravação, e o diretor Maurício Eça (querido!) me receber com uma camiseta do AC/DC. Fizemos mais alguns clipes juntos depois, e ele sempre com a mesma camisa, que virou uma espécie de amuleto da sorte pra gente.

Demorou um certo tempo até que, finalmente, a gente pudesse sentir que Máscara era bem sucedida- e essa insistência e paciência de construir cada tijolinho dessa casa valeu muito a pena.

Aí hoje, oito anos disso tudo. Aconteceu muita coisa, gravamos outros discos, vieram outros singles, caminhamos para direções diversas. A sensação de que passou num piscar de olhos. E de que ainda há tanto, tanto pra ser feito. Na verdade, sempre me sinto como se ainda nem tivesse começado.

Eu devo, com toda honestidade, agradecer às pessoas que fizeram ser possível aquela jogada arriscada resultar num gol. Obrigada à Deck, Rafa e Lobatto por terem acreditado, apostado e comprado essa briga junto comigo. E acima de tudo, muito obrigado à todos que naquela época ligaram pras rádios insistindo pra tocar aquela música estranha, pediram o clipe nas Tvs, e nos ajudaram a quebrar uma barreira mercadológica que parecia intransponível. Sinceramente, e eu sempre soube disso: não fosse a vontade daquelas pessoas de ouvir a música e todas as ações efetivas dos mesmos nesse sentido, não haveria jabá, esquema ou conluio suficiente no mundo para fazer com que Máscara desse certo.


Fonte: o boteco

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