segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Terça - 02/08/2011
Agridocelândia


Ansiedade na noite anterior. Imaginando. Moleculando.


Acordei cedo na manhã seguinte e fui juntar todas as coisas. Mala para um mês, equipamentos, chocalhos, violões, glockenspell, escaletas, tudo o que fizesse algum barulho interessante. Martin chegou. Fomos carregar o carro. Claro que não coube tudo. Tivemos que deixar o Moog e o ampli de violão para a próxima leva.

Estrada. Trânsito pra sair de São Paulo. Fomos nos confiando no tal do Google Maps do celular, e ele nos mandou por um caminho alternativo muito doido. Selva total. Fomos adentrando cada vez mais, nos embrenhando, estrada de terra. De repente, não tinhamos mais sinal de celular. Estávamos por nós mesmos, no meio do mato, num lugar ermo com absolutamente nada em volta. Uma estradinha de terra esburacada e estreita, mal cabia um carro. Não tínhamos outra opção a não ser seguir adiante para ver no que dava, e o mato ficando cada vez mais alto, e a estrada cada vez menos visível. Parecia que ela ia afunilando, e a qualquer momento terminaria repentinamente num beco sem saída verde e denso. Sem sinal, fuck. A bolinha azul do GPS não andava nem por decreto. Subimos, descemos, buracos, um barraco solitário na lateral da não-estrada. Meio que aconteceu o que eu previa. Chegou uma hora que não tinha mais como ir adiante, e nem fazer o retorno porque não havia espaço. Achamos um jeito, e resolvemos voltar. “Vamos perguntar pra alguém”. Não havia viva alma por perto, e o único cidadão que cruzamos parecia saído de um road movie de terror. Ele mexia numas carnes cruas dentro de uma bacia imunda. “Não vou perguntar pra esse cara nem fodendo, Martin”. Voltamos a estrada toda até que enfim o celular deu um mini sinal de vida.

Achamos um mercadinho de beira de estrada, e perguntamos. “Volta tudo, pega essa avenida asfaltada aí até o fim”. Asfalto pelo menos, ufa. Dirigimos mais um tempão, curvas sinuosas, rios, caminho bonito. O sinal sumiu de novo, mas a bolinha era nossa amiga e se movia mesmo assim (vai saber). Mais umas duas mini perdidinhas e enfim, ENFIM, ENFIIIM chegamos.

Meu maior desejo era que meus olhos fossem câmeras e gravassem certas cenas para que eu pudesse compartilhar depois. A visão do portão da CASA sendo aberto por Rafa, com uma plaquinha daquelas de jardim na mão escrito “aqui tem gente feliz” me fez lembrar desse desejo. Ele ficou “parkeando” o carro com a plaquinha na mão, como aqueles caras nas pistas de pouso, indicando o lugar que eu deveria estacionar. Impagável.

A CASA é um absurdo. Minha primeira visão ao adentrar pela porta foi o piano, lindamente colocado no centro da sala, num tablado de madeira que já existia, sob um lustre pomposo. Preto. Lindo. Um Fritz meia cauda.

Descarregamos tudo, e a euforia da chegada. Lá já estavam além de Rafa, Tavinho, nosso fotógrafo-videomaker-documentador dessa aventura; e Jorjão, nosso engenheiro de som gente boa e caladão. Fomos fazer um tour pelo nosso parque de diversão nesse mês inteiro. A sala enorme, móveis antigos, um cantinho que era perfeito para a técnica. O gravador de rolo, a monitoração, a mesa de som e tudo o mais. Na parte de baixo, a piscina, churrasqueira, mesa de sinuca e pingue-pongue. Um cachorro bem vira-latinha, todo fofo e bem imundo, que precisava ser batizado. Primeiro era Bob, ele tem olhos de Bob e o Marley tinha nos ajudado a chegar aqui mandando good vibes através dos falantes do carro. Depois pensamos melhor, e o batizamos de Beto Bruno. Ele tem a ver com o Beto também.

A essa altura já era noite, e a fome apertou. Martin fez um macarrão com uma receita que, disse ele, “é aquela clássica sua, mas melhorada”. Vinho pra acompanhar, e a mesa de jantar já virou um brainstorm do que seria essa gravação, do que faríamos nos próximos dias, planos, delírios, possibilidades. A ideia de gravar um disco num esquema desses- casa no meio do mato com os equipamentos disponíveis e imersão total de todos os envolvidos- era um sonho antigo meu. Sempre quis fazer isso desde que assisti o Funky Monks dos Chilli Peppers, e imaginava que esse clima era perfeito para uma sonoridade como a do Agridoce. Martin também compartilhava dessa vontade, e Rafael, parceiro, entusiasta e aventureiro como sempre, comprou a briga. E aqui estamos nós.

Depois do jantar, hora do ensaio. Demos uma passada nas músicas para lembrar a forma, fizemos a audição de algumas demos que tínhamos gravado na minha casa. Noite adentro, Martin pega o ukulele. Eu pego um tecladinho Casio. Ele tinha feito uma música e pediu pra eu inventar alguma coisa. Saiu a música mais brega, fofa e de churrascaria que a gente poderia fazer na vida. Estávamos brincando, e estava divertido. Resolvemos gravá-la de qualquer jeito, só pra registrar o momento. Rolou até umas maracas. Ficou uma coisa meio mariachi, eu cantarolando qualquer coisa num portunhol bem safado. Crises de riso.

Quatro da matina. Hora de dormir, que amanhã é que a brincadeira começa de verdade.

Fonte: O BOTECO

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